segunda-feira, outubro 10, 2005

Ténues linhas do ódio

Não és linda, não, não és linda. És feia, feia, esconde-me essa cara. Não limpes as lágrimas com a manga da camisola, não faças mais estragos. Põe os óculos outra vez, esconde esses olhos vazios e perdidos, vermelhos de sono e de choro. Não sorrias, não vale a pena fingir que sorris quando nem vontade tens de o fazer. Não te escondas atrás dessa atitude tímida, perdida no teu próprio abraço forte com medo de pareceres ainda mais desamparada do que já és, não te encostes à parede e deslizes até ao chão de pedra fria, não vale a pena, o mundo não volta atrás para te confortar.

…não me digas essas coisas, ajuda-me…

Ajudar-te? Para que queres ajuda? Só te ajudo se for para te derrubar de forma a mais ninguém te poder ver como eu vejo, essa atitude fria e magoada, como que te sentisses insultada com o que mora dentro de ti. Eu não quero que saibam que te conheço, não me acenes quando me vires ao longe na rua ou irei mudar para o outro lado do passeio e fingir que acenas ao vazio. Tão vazio como tudo em ti. O teu coração. Vazio, muito vazio, talvez funcione do vácuo, do infinito que além de infinito nunca termina. Nunca amaste ninguém porque nunca tiveste ninguém que olhasse sequer para ti.

…já amei sim, não me julgues…

Julgar-te? Longe de mim fazê-lo. A verdade não é julgamento nem merece castigo. Mas nunca amaste, nunca quiseste, talvez perder o teu tempo com alguém que não te queria te parecesse muito dispendioso. A vida é má para ti. Cada um tem o que merece. E tu talvez tenhas pouco do que mereças, se calhar, além de ignorada por tudo o que é vivo devesses também rastejar abaixo das pedras, comer a poeira que piso, lavar a cara suja e de olhos vermelhos na lama da chuva.

…porque me castigas…

Porque te amo. Porque minto. Porque penso que és como eu. Mas não… Perdoa-me.

terça-feira, outubro 04, 2005

Última chance - "No meio do silêncio"

Vá... Chamem-me incoerente, mentirosa, falsa, depressiva, pouco firme ou decidida mas não resisti... A Sofia Braga ainda é uma grande parte de mim, tentei pegar de novo no livro embora tenha apagado as últimas páginas que tinha escrito e que considerei "resíduos literários" e noutro dia estava um bocado em baixo e lembrei-me de consultar o meu psicólogo que está sempre lá quando eu preciso... A escrita. =)

" Todas as vezes que me perco me encontro mas na dor e no pouco conforto que é estar só. Todas as vezes penso onde errei e cada vez mais me afundo na minha única certeza de que nunca nada fiz que não fosse errado. Exagero? Não, muito menos do que isso, consciência, consciência de que qualquer que seja a palavra o tom é sempre mais frio do que eu desejaria, seja qual for o toque o gesto é muito mais brusco do que a intenção… Feitio? Não, muito mais do que isso, razão que me transcende em todo o meu ser, que me reporta todas as minhas forças para um canto da minha alma que folgo em não conhecer. Lado escuro. Lado lunar. Lado negro. Lado mau… Destino, talvez um dia acabe sozinha, eu e esse meu lado que apenas eu não conheço mas de que todos se afastam quando passo, talvez o problema seja meu e eu não perceba as evidências, nunca percebi nada, nem uma palavra do que disseste, nenhum acto que fizeste… Foram inúteis. Porque me quiseste dar sentimentos que eu evito conhecer em ti por não teres direito a sofreres o mesmo que já toda a gente sofreu, a dor comum, o pânico desolador da minha presença e o silêncio… O silêncio… Em que todos os corações batem menos o meu, sala cheia, sala vazia, e todos me olham, não bate, não ouvem bater, já morreu, lamento, no meio do silêncio só eu não me faço ouvir…"

Eternamente vossa,
Sofia**