domingo, setembro 17, 2006

É a vida..

São mentiras que ferem. Punhais que me traçam e criam cicatrizes mais longas que o tempo. Estás debaixo da minha pele, dentro dela, entranhado até o último poro do meu ser. Eu definho com esta presença de ti. Porque tu me consomes a alma. Já me arrancaste o coração. Nada mais são mentiras as palavras que te choram dos olhos. Gostava de não olhar para trás. Mas tu puxas-me. Como um peso morto. Que mata. Essa solidão de ti sufoca-me. És negrume todo tu. Com a tua noite vazia e soturna. Com o vento gelado que me empurra as costas contra o corpo. As amarras que antes tinha eram memórias que o tempo apagou, como o contorno dos teus passos a soarem perto de mim. Não és carne, não és corpo, não és nada. Eu não sou nada. Tu és o que me assombra e me assola. Por quem pecam os meus olhos querendo invadir-se de algo que tu já não dás. És a calçada que chora calada. A lareira que arde cega de paixão. Cegou. Ceguei. Lutei por não ver e agora não há luz que alimente esta sofreguidão lânguida. Foi tudo. Foi-se tudo. Carregada nos apertados braços da tempestade que criaste na minha vida. Foste vida. Foste mais que vida. E agora foste embora. E dói. Arde. Corrompe toda esta teia de segurança que me tinhas mostrado. Todo o amor. Existiu? Pormenores. O que existe é o agora. São cordas ao pescoço que apertam quanto mais me movo. Vozes que me gritam caminhos opostos, direcções opostas. E eu perco-me. Na inconstância da consciência. Da inconsciência. É demais. Demais para mim. O corpo cambaleia. Pede descanso. Um abrigo. Um porto seguro. Último recurso. Último suspiro. Fui forte demais por demasiado tempo. Fadiga emocional. Olhos pesados a pedirem para não ver mais, para não saber mais, para não querer mais. Já quis demais. Já fui demais. Já fiz demais. E acabou-se. Atingi o limite da dor. Da paciência. A gota que fez o meu copo transbordar. Que transbordou dos meus olhos e me tornou quase tão fria quanto a pedra em que me vergo em submissão.