quarta-feira, março 01, 2006

Para alguém que está do outro lado do oceano:



Com cuidado escolhi uma ponta do mar. A ponta mais azul. E escolhi uma garrafa. Do vidro mais transparente. Da qualidade mais refinada. Cristal da boémia talvez. Faltava-me uma mensagem. Tinha escolhido o oceano e a garrafa com tanto critério, tanto cuidado, que me esquecera do resto. Não podia ser muito grande ou haveria possibilidade de partir o gargalo da garrafa. Não podia ser muito pesada senão engoliria-a o mar.
Desisti da ideia. E, durante seis meses e seis noites, não pensei em mais nada. Toda a gente me dizia: “manda uma carta, não é a mesma coisa?” E eu dizia que não, não era, que tinha que ser pelo mar, tinha que ser pela garrafa. E voltavam-me a dizer “manda uma carta, manda uma carta”. Não dormi. Dava voltas e voltas na cama e não dormia. Não cerrava os olhos. Não sossegava. Mesmo com todos os elementos contra mim haveria de enviar a mensagem dentro do mais puro cristal, a partir do mais imaculado extremo daquele mar. Liguei a rádio. Talvez tentasse desviar as dúvidas. Talvez.

“Whenever, the rain comes down, the sun turns grey.”


Gostavas da música. Era a tua preferida, agora outras lhe terão precedido. E foi assim que me lembrei…

Uns tempos depois, segundo me contaram, estavas tu sentado na areia. Na areia mais incandescente, mais dourada. Abrias algo do mais puro cristal, daquele que brilha e ofusca tudo num raio de cento e oitenta e três quilómetros, que tinha viajado na mais genuína das águas e estava envolto nas mais castas algas de todo o fundo marinho. Contaram-me que olhavas intrigado para o conteúdo e sacudias a garrafa que tilintava. Tudo o que tinha eram três brilhantes gotas de chuva.

Porque choveu em mim. Choveu saudade. Porque a saudade também chove. E do céu. Do céu da alma. Do espelho da alma. Choveu-me dos olhos e quis que guardasses essa chuva para ti. Para te lembrares que por mais enevoado que esteja o teu espírito, faz sol do outro lado. Onde o mar é limpo, o cristal é puro e a areia não magoa. Para te lembrares que há sempre quem se importa com a meteorologia do espírito. Quanto mais não seja, porque se lembra de ti.

Adoro-te, primocas.

4 Comments:

Blogger Unknown said...

tá lindo!!

um bocado mais afastado do teu género de romance, mas tá simples e bem escrito!

há primos com sorte! =P

3:12 da tarde  
Anonymous Anónimo said...

xorava pk tinhas-t xkecido d mim. agr xoro pk t lembrast-t d mim. seis meses longos e quatro aind faltam. kero voltar, o meu coracao pede-m tds os dias por noticias duma "serra" longiqua. ms o meu coracao tb ker fikar, uma vida k m mudou e k mudou para sempre um "eu". adr-t do fundo do meu coracao, um espaco k vais ocupar para smp

11:06 da tarde  
Anonymous Anónimo said...

Também já estive a estudar fora e sei na pele o quanto é bom receber mimos dos amigos, nos primeiro mês ainda se vão lembrando de nós mas com o passar do tempo vai-se desvanecendo o contacto. Não é por não gostarem de nós é simplesmente a vida que continua mesmo sem nós, mas não quer dizer que não sintam a nossa falta porque sentem e lembram-se de nós e até falam de nós, mas os amigos e familia têm-se uns aos outros, o problema somos nós que como estamos do outro lado do oceano sem eles estamos mais sequiosos de atenção e miminhos destes.
Bjs espero que aproveites esta experiência que "nós" somos sortudos por ter esta oportunidade e voltamos mais crescidos e ricos de experiências.
BJS Primocas

10:16 da tarde  
Anonymous Anónimo said...

Mtu fixe!! Curti bué ler! Adorei!..
Poix i o miká k deixou saudade a toda a gente, mas.. ta kaze a vir (já faltou maix!)

5:54 da tarde  

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