D.Q.N.C. - parte 8 - capítulo 2 e parte 9 capítulo 3
«Lembro-me da cozinha. Típica. Muito regional. Um armário que me suscitou curiosidade. Rondava-o tentando trespassá-lo com o olhar. Sei que era falta de educação, mas na altura tu sabes como eu era curiosa, rebelde, e parecia-me provocador aquele armário fechado. Quando te falei do meu fascínio pelo móvel e a curiosidade pelo seu conteúdo riste-te. Sim, não me quiseste dizer o que tinha, apenas te riste. Senti-me insultada. Fui directa ao assunto e perguntei à tua mãe. Ela riu-se. Começava a habituar-me àquela família.
…o amor são segredos…
Não foi daquela vez que eu consegui saber o que tinha o raio do armário, mas uns anos mais tarde. Lembraste?»
Capítulo 3 - (ele a falar de novo).. desculpem esta confusão..
«Lembro-me. Tinha decidido apresentar-te aos meus pais. Claro que um bocado a medo, tu eras muito efusiva. Atraía-me esse teu encanto selvagem, principalmente porque ainda o conservas mesmo usando roupa formal ou cozinhando. Nasceu contigo, assim como a tua essência. Os meus pais, que achavam o amor tão levianamente considerado pela nossa geração, não estavam muito crentes do que dizíamos sentir mesmo depois de termos inventado uns quantos episódios românticos pelo meio.
E o armário? Andaste intrigada durante uns tempos, decidi ver até quando durava. Parecias um tigre faminto, arranjavas desculpas para ir até à cozinha e ficares a olhar para ele. Nunca te disse nada mas uma vez apanhei-te a sentires a rugosidade da madeira comida pelo bicho. Aquele verde-esmeralda ameaçava desaparecer de vez, estava em mau estado, mas por alguma razão tinha cada vez mais significado.
…revejo-me no abraço desses momentos a sépia…
É verdade, talvez agora perceba a frase. E revejo mentalmente o riso da minha mãe quando lhe perguntaste o que tinha. Mostrei-te uns anos depois, não sei se ficaste desiludida. Ainda me lembro, no nosso primeiro ano de casamento, meti na cabeça que nas férias te ia levar a casa dos meus pais. Concordaste porque eles, no fundo, até tinham gostado de ti e tinhas-te habituado à casa. A minha mãe sussurrou-me tantas vezes que cheiravas bem, disse-me que tinhas uma essência natural. Concordava e sorria-lhe cheio de orgulho.
A aldeia ainda era longe, sei que te cansaste na viagem, mas não me disseste nada, nunca gostavas de dar parte fraca. Estradas de terra batida. A suspensão do carro a queixar-se. As nossas malas a rebolarem de um lado para o outro na parte de trás. Ouvi-te suspirar quando finalmente parei. Olhei com ternura aquela casinha azul clara corroída pelo tempo mas não pela memória. Os meus pais já lá não estavam, a segurança social tinha-os mandado para um apartamento qualquer mais perto de tudo. Tive que empurrar a porta com força enquanto rodava a chave para a abrir. Sorrias e memorizavas tudo com o olhar, és como eu, sempre gostaste de coisas antigas.
…desvendar o amor, porque o amor são segredos…
Olhei para ti, parecias fascinada com umas fotografias antigas que lá tinham ficado. Olhaste para mim e ouvi-te rir com uma fotografia minha, quando era pequeno, a correr nu pela praia.
- Ó amor, quem diria…
- Vê lá se não me provocas e eu começo a correr outra vez nu aí pela aldeia.
- As consequências agradam-me. Na prisão eles têm algemas, não têm?
E fizeste aquele ar provocador.
- Engraçadinha.
Rimo-nos. Pequena vingança.
- Mas olha que se eu for preso nunca te vou mostrar o que está no armário…»
…o amor são segredos…
Não foi daquela vez que eu consegui saber o que tinha o raio do armário, mas uns anos mais tarde. Lembraste?»
Capítulo 3 - (ele a falar de novo).. desculpem esta confusão..
«Lembro-me. Tinha decidido apresentar-te aos meus pais. Claro que um bocado a medo, tu eras muito efusiva. Atraía-me esse teu encanto selvagem, principalmente porque ainda o conservas mesmo usando roupa formal ou cozinhando. Nasceu contigo, assim como a tua essência. Os meus pais, que achavam o amor tão levianamente considerado pela nossa geração, não estavam muito crentes do que dizíamos sentir mesmo depois de termos inventado uns quantos episódios românticos pelo meio.
E o armário? Andaste intrigada durante uns tempos, decidi ver até quando durava. Parecias um tigre faminto, arranjavas desculpas para ir até à cozinha e ficares a olhar para ele. Nunca te disse nada mas uma vez apanhei-te a sentires a rugosidade da madeira comida pelo bicho. Aquele verde-esmeralda ameaçava desaparecer de vez, estava em mau estado, mas por alguma razão tinha cada vez mais significado.
…revejo-me no abraço desses momentos a sépia…
É verdade, talvez agora perceba a frase. E revejo mentalmente o riso da minha mãe quando lhe perguntaste o que tinha. Mostrei-te uns anos depois, não sei se ficaste desiludida. Ainda me lembro, no nosso primeiro ano de casamento, meti na cabeça que nas férias te ia levar a casa dos meus pais. Concordaste porque eles, no fundo, até tinham gostado de ti e tinhas-te habituado à casa. A minha mãe sussurrou-me tantas vezes que cheiravas bem, disse-me que tinhas uma essência natural. Concordava e sorria-lhe cheio de orgulho.
A aldeia ainda era longe, sei que te cansaste na viagem, mas não me disseste nada, nunca gostavas de dar parte fraca. Estradas de terra batida. A suspensão do carro a queixar-se. As nossas malas a rebolarem de um lado para o outro na parte de trás. Ouvi-te suspirar quando finalmente parei. Olhei com ternura aquela casinha azul clara corroída pelo tempo mas não pela memória. Os meus pais já lá não estavam, a segurança social tinha-os mandado para um apartamento qualquer mais perto de tudo. Tive que empurrar a porta com força enquanto rodava a chave para a abrir. Sorrias e memorizavas tudo com o olhar, és como eu, sempre gostaste de coisas antigas.
…desvendar o amor, porque o amor são segredos…
Olhei para ti, parecias fascinada com umas fotografias antigas que lá tinham ficado. Olhaste para mim e ouvi-te rir com uma fotografia minha, quando era pequeno, a correr nu pela praia.
- Ó amor, quem diria…
- Vê lá se não me provocas e eu começo a correr outra vez nu aí pela aldeia.
- As consequências agradam-me. Na prisão eles têm algemas, não têm?
E fizeste aquele ar provocador.
- Engraçadinha.
Rimo-nos. Pequena vingança.
- Mas olha que se eu for preso nunca te vou mostrar o que está no armário…»
4 Comments:
"…desvendar o amor, porque o amor são segredos…"
esta é daquelas frases q ficam para a história... bem verdadeira...
que fixe!! =D
ai isto está cada vez melhor ^^
***
eu j li...
=P
sabs cm t adoro...
******tvb
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