sábado, junho 10, 2006

D.Q.N.C. - parte 5 - capítulo 2

Muda o capítulo... Agora é ela a falar...

«2
O meu nome ressoando nas paredes, galgando pela escuridão. Ouvi-te chamares-me outra vez. Mas afinal que se passa contigo, amor? Que raio de sonho é esse que em vez de te fazer dormir te desperta tanto e de forma tão violenta? Desço as escadas a correr, não quero saber do soalho que range, sinto uma pontada dentro da alma que me faz querer abraçar-te e sussurrar-te ao ouvido que tudo está bem. Abri a porta do escritório de rompante, encontrei-te no cadeirão, com o rosto todo suado, cara de sofrimento, contorcias-te. Abracei-te, desatei a chorar.
- Está tudo bem, amor, está tudo bem, estou aqui…
Beijei-te na testa, peguei-te na mão. Abriste os olhos, agarraste-te a mim, parecias ter perdido o norte.
- Desculpa, Esperança, desculpa…
- Não peças desculpa, está tudo bem.
- Não, não está, estou a dar em doido com estes sonhos. É tão estranho, sinto que te perco.
- Não perdes, sabes que não. Como haverias de perder esta mulher desajeitada de roupão e cabelo desgrenhado que é tolinha por ti?
Sorriste. Beijaste-me e encostaste a cabeça no meu ombro. Pus-te uma mão no peito. O teu coração ameaçava saltar. Como poderia um sonho pôr-te assim? Sempre foste tão forte.
- Esperança…
- Hmm?
- Não deixes que ela me leve.
Desorientada. Mas seria melhor não fazer perguntas, estavas irreconhecível. Nestes anos todos que passei contigo nunca te tinha visto assim. Os teus olhos castanhos tinham escurecido, pupilas reduzidas, no teu rosto sereno encontrava agora um homem confuso e com medo, fitavas um ponto qualquer na parede tentando recompor as ideias. Em alguns minutos mudaste. Limpaste-me as lágrimas com beijos, vi-te sorrir, pegaste-me ao colo. Apanhaste-me desprevenida.
- Revejo-me no abraço desses momentos a sépia.
- Bonita frase, de quem é?
- Tua. Fi-la para ti.
- Então porquê?
- Porque te amo.
Arqueei uma sobrancelha.
- Então e que momentos são esses?
- Quando estou no escritório e ouço o eco dos teus passos nas escadas e sei que vais entrar e pedir-me que me deite, quando de manhã entras com aquele sorriso lindo e me trazes o pequeno-almoço ou mesmo quando dormes e o teu cabelo solto te envolve, serena, e eu fico a observar-te…
- Olha, diz-me uma coisa, por acaso fazemos anos de casados e eu esqueci-me?
- Não sejas assim…
- Pronto, está bem, não digo mais nada.
- Resmungona…
- Muito!
Fizeste-me dar uma volta nos teus braços. Beijaste-me no pescoço, ainda sentia um arrepio na espinha sempre que o fazias. Ali, no meio de toda aquela escuridão, eras capaz de gerar luz apenas com a tua energia. Escutando o silêncio, demos conta que ambos tínhamos os corações a baterem muito depressa, sorrimos. Puseste-me no chão, abraçaste-me. Olhei o relógio, fiz um comentário qualquer depreciativo. Ignoraste o que disse, em vez disso elogiaste-me, perdi-me nos teus olhos. Demos as mãos e sentei-me ao teu colo no cadeirão. Ambos a olharmos pela janela que dava para o Douro.
- Que presença é essa no rio que te assusta tanto?
- Tu…
- Bem, obrigada pela parte que me toca.
- Nada disso. Sinto que não fazes parte do meu mundo, vejo-te dançar nas águas, ser levada pelo vento, deslizar nas correntes e sinto-te distante. Ao mesmo tempo parece que me chamas e sinto-me tentado a procurar-te no fundo do rio.
Agarrei a tua cara com ambas as mãos, obriguei-te a olhar-me nos olhos. Devia estar-te a magoar.
- Estou aqui, porque procuras lá?»

3 Comments:

Anonymous Anónimo said...

a senhora é uma fixe ^^

e tu também =]
porque não ganhou o teu livro? isto assim é só injustiças. por isso é que o país não vai para a frente.


***

6:24 da tarde  
Blogger Velasquez said...

Gostei de cá vir;)

2:29 da manhã  
Blogger João Esquimó said...

Olá!
Só para dizer que adorei os teus textos.

Se quiseres participar neste pequeno projecto és bem-vinda: http://argumentoparaumfilme.blogspot.com/

Ups... Espero que isto não pareça Spam...

2:55 da manhã  

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