terça-feira, maio 02, 2006



Já que não ganhei... Excerto do meu livro. Pequeno pedaço (fragmento?) de que curiosamente me orgulho.

«Observo a cena como se a ela não pertencesse. Tudo me parece mover-se com dificuldade. O ar pesa. Processo em câmara lenta. O Douro. Corre tão sossegado não parecendo predador. Mas é. Quantos não se deixaram ir? Quantos não alimentaram essas águas? Quantos? Águas tão sedutoras e fatais. Onde te vejo caminhar. Dançar. Chamar. Deslizas como se a água não mordesse. Como se não ferisse. Dama do teu mundo. Esse mundo onde Douro e pôr-do-sol são sinónimos do mais puro metal que se aflora nas profundezas da Terra. Do mais puro. E o mais puro que se afunda naquelas correntes como se do mais inconsciente desejo se tratasse. As vezes que te vejo. As vezes que te desejo. Não consigo definir se és tu que pertences ao rio ou se ele corre apenas porque assim o queres. Simbiose, talvez. Simbiose onde tudo o que destoa sou eu do escritório a olhar para ti. Entro em transe. Ninguém olha as sereias, longe de mim tentá-lo. Olho-te apenas a ti. Mais que uma sereia. Mais que uma comum mortal. Deusa. Ninfa. Palavra por inventar de tão divina a tua natureza. Não tens símbolo químico possível. Não te reduzes a iões. Não te reduzes a átomos. Não te reduzes a células. Não te reduzes aos seres humanos. És toda tu, na tua dança, no teu ritmo, no teu sentir e no amor que tenho por ti. A indefinição por excelência. E ao mesmo tempo acho impossível que te definas tanto a ti mesma nas linhas carregadas do que nutro por ti. És o meu desconhecido que adoro conhecer. És as profundezas de mim mesmo que nego, na impaciência de que não tenho esse tipo de virtudes. Geografia que nunca quis esquecer. És o sol. És as estrelas. És os astros e a astrologia. És ciência do meu amar e filosofia da minha alma. Não te conceberia de outra forma. Não o poderia fazer. Não te poderia conceber. Mas se o fizesse, negaria-te os teus poderes que me fazem sentir tão mortal junto de ti. Não é cobiça. Não é ciúme. Não é prevaricação. É medo. Medo que tu, tendo tão pouco de terreno, me troques pelo sol e pelo rio onde te fundes. Me proíbas de deixar seguir-te por entre os rabelos e fazer-me acordar, com o choque. A sensação austera de que já não queres pertencer ao meu mundo. »


"Love would be the pretiest thing on the world if it was as everyones dreams, with red roses on the bed, candles over the room and a nice person who wouldn't mind to listen us talking about our ordinary day life" by unknown

5 Comments:

Anonymous Anónimo said...

ta mt profundo..adorei mm..tens imenso jeito..n tenho palavras para te dizer o kanto escreves bem..adorei..e nc te eskeças mor..vais ficar sempre no meu coraxao***

8:27 da tarde  
Anonymous Anónimo said...

bom, como dizias noutro texto e como "savoir faire" qd s perde aprende-s...;) mas realment merecias, a obra está linda. n podes parar, e um mal q nos fazes a todos.*******

9:32 da tarde  
Blogger b. said...

mergulha fundo, ao encontro do objectivo...

3:38 da tarde  
Anonymous Anónimo said...

ouvi falar maravilhas do teu livro. e se não ganhaste ficaste logo a seguir. porque só esse excerto merecia primeiro lugar =]


**

9:49 da tarde  
Blogger Unknown said...

ah e tal, eu como sendo um dos previligiados que tem esse livro numa prateleira bem guardado para ler e reler e dizer-te que o adorei tenho pouco a dizer acerca deste texto... lol

tens lá passagens muito bonitas, excelentes, divinas que também podes ir metendo aqui... e se não ganhaste... não vale a pena dizer-te o mesmo discurso outra vez que já deves estar farta de o ouvir...

és a maior! beijão *

5:51 da tarde  

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