terça-feira, maio 30, 2006

Douro que nos consome - parte 1

Decidi ir "postando" (ai os estrangeirismos) aqui, e todos os dias, o livro que escrevi. Tudo isto pertence a Sofia Braga. Não creio que haja alguém com paciência suficiente, mas vale a pena tentar. Estou animada... Passei no exame de código sem errar nenhuma. :P

«03-08-2005 * 1
Ouço-te descer as escadas com cuidado, tentando não fazer ranger o soalho. De pouco vale, mas esta casa nada seria sem o eco dos teus passos a quebrar a escuridão. Estou no escritório, sou capaz de ver o rio Douro daqui. Imagino o teu vulto dançar para mim sobre a água. Cabelos ao vento, trazes algo vestido que se cola ao teu corpo como se estivesses encharcada. Abro a janela para sentir a tua essência.

…o eco dos teus passos nas escadas…

Vejo-te sorrir e sorrio também. Estou velho, tu estás sempre na mesma. O cheiro doce da tua pele morena não muda, nem os teus olhos, nem as tuas mãos secas e ternas. Danças no Douro e eu fico em transe vendo-te serpentear os rabelos, caçar o vento com um suspiro. Chamas-me. Que saudades da tua voz rouca! Quero sair, abraçar-te e ficar a pregar estrelas no manto azul que é o céu desta noite.

…o ranger do soalho…

Paraste. Dedo indicador sobre os lábios. Sim, será o nosso segredo, mais ninguém saberá que danças no Douro à noite, quando toda a gente dorme ignorando as sereias do rio. Alguém roça os nós dos dedos na porta. Porque não batem se querem entrar?
- Estás a dormir?
Desperto. Olho pela janela. Onde estás? Olho para a porta. Tu, de roupão, sorris. Estaria a sonhar? Mas não, não pode… Era demasiado real para ser apenas um sonho. Conformo-me. Ficas bem melhor ao meu lado do que a dançar sobre o Douro.
- Agora não.
- Desculpa…
Porque pedes desculpa, acordaste-me para uma realidade ainda melhor. Onde tenho a mulher que amo ao meu lado de roupão, perguntando se estou acordado.
- Não tens nada que pedir desculpa, já sonhei demais…
- Sonhar é bom.
- Sabes dançar sobre as águas?
Arqueaste uma sobrancelha, sim, deverias estar a duvidar da minha capacidade de raciocínio momentos depois de acordar. Respondeste cordialmente.
- Ainda não, mas deve ser uma questão de equilíbrio. Vou praticar.
Riste-te e eu ri-me também, abraçaste-me pelas costas e olhaste comigo pela janela.»

2 Comments:

Blogger Unknown said...

puro prazer...

puro deleite...

felizmente posso-me gabar de ser um dos sortudos que conhece esta história!

és a maior!

beijão ***

PS: e parabéns pelo código!

7:08 da tarde  
Anonymous Anónimo said...

^^
está tão lindo.

confesso que estava ansiosa por ler esse tal livro. pelas maravilhas que ouvi...e vindo de ti, ainda melhor =]


***

10:26 da tarde  

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