D.Q.N.C. - parte 3
«Lá estavas tu outra vez, mas agora só te ouvia ao longe. Levantei-me de repente, saí porta fora. Não quis saber do ranger do soalho. A janela. Danças de novo? Chamas-me… O teu corpo cor de canela suado, a luz do teu sorriso, a vontade de te abraçar, os teus olhos verdes a fixarem-me. Chamo-te, apenas sorris. Não percebo, não percebo…Não duvidei que fosses tu até ouvir uma voz que me chamava de outro lado, de qualquer lugar que me parecia distante e quebrava todo o silêncio tal como o eco dos teus passos. Dediquei-me a tentar escolher que voz seguir. Conflito de consciências. Optei pela segunda e aí fui capaz de ouvir com clareza.
- Estás bem?
Abri os olhos com um esforço descomunal, um clarão mesmo por cima de mim dificultava-me a tarefa. Vi-te. O cabelo todo caído para o lado esquerdo do pescoço, ar preocupado.
- Que se passa?
- Sei lá que se passa, de repente começaste a chamar-me!
Não disse nada, não sabia como me justificar. Não podia voltar a falar-te do sonho, da indecisão de que voz seguir. Agarraste-me uma mão.
- Amor, tens a certeza que estás bem? Estou preocupada contigo…
- Foi um sonho mau, só isso.
- Mete uma coisa na cabeça, já não tens idade para sonhos maus! Que é que se passa contigo, por amor de Deus?
Viraste-te para o teu lado e desligaste a luz. Não quiseste resposta nem me deste oportunidade para responder. Percebia a tua preocupação mas não sabia como te acalmar porque também estava perturbado. Decididamente não ia conseguir dormir. Vislumbrei uma última vez o teu corpo enroscado nos lençóis, sentei-me na cama com as mãos a apoiarem a cabeça.
- Estarei a ficar maluco?
Trinta e seis anos e já com visões. Ouvi dizer que há doenças do foro psiquiátrico que podem causar alucinações, será o meu caso? Não pode, é tudo tão real… Sondei o quarto com o olhar. Cinzeiro, molduras com fotografias do casamento, sapatos no chão, revistas de automóveis empilhadas a um canto, livros que compro mas que acabo por não ler na mesinha de cabeceira, camisa amarrotada perto da porta…
- É melhor levantar-me.»
- Estás bem?
Abri os olhos com um esforço descomunal, um clarão mesmo por cima de mim dificultava-me a tarefa. Vi-te. O cabelo todo caído para o lado esquerdo do pescoço, ar preocupado.
- Que se passa?
- Sei lá que se passa, de repente começaste a chamar-me!
Não disse nada, não sabia como me justificar. Não podia voltar a falar-te do sonho, da indecisão de que voz seguir. Agarraste-me uma mão.
- Amor, tens a certeza que estás bem? Estou preocupada contigo…
- Foi um sonho mau, só isso.
- Mete uma coisa na cabeça, já não tens idade para sonhos maus! Que é que se passa contigo, por amor de Deus?
Viraste-te para o teu lado e desligaste a luz. Não quiseste resposta nem me deste oportunidade para responder. Percebia a tua preocupação mas não sabia como te acalmar porque também estava perturbado. Decididamente não ia conseguir dormir. Vislumbrei uma última vez o teu corpo enroscado nos lençóis, sentei-me na cama com as mãos a apoiarem a cabeça.
- Estarei a ficar maluco?
Trinta e seis anos e já com visões. Ouvi dizer que há doenças do foro psiquiátrico que podem causar alucinações, será o meu caso? Não pode, é tudo tão real… Sondei o quarto com o olhar. Cinzeiro, molduras com fotografias do casamento, sapatos no chão, revistas de automóveis empilhadas a um canto, livros que compro mas que acabo por não ler na mesinha de cabeceira, camisa amarrotada perto da porta…
- É melhor levantar-me.»
3 Comments:
=)
sonhos maus? coitado =/
deve-se sentir mesmo maluco =/
***
Nota-se que tens sensiblidade para esta "coisa" das letras..
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