«Era corromper o nevoeiro. Ver as estrelas cair como pardais a desmaiar ao vento. Tiro certeiro no peito. E agarrar o corpo ao chão com medo de cair mais ainda. Um suspiro. Uma nuvem que passa e traz consigo cinco segundos de silêncio. Talvez quatro. Pegar num guardanapo e nele escrever um poema. Limpar a boca. E deixá-lo voltar à cozinha no prato. Fazer alguém feliz com a recordação de um amor que nunca viveu. E sonhar. Porque se os outros estão bem, eu estarei bem. E é a vida que se ilumina. Que se cospe dos murmúrios depressivos do passado. Falar francês porque quero. Porque não sei. Porque quero fingir. E “o poeta é um fingidor”. E gosto de Pessoa. E gosto das pessoas. E do mundo e do sempre e do nunca e do tarde e do cedo e da sorte e do azar e do sim e do não. E de escrever palavras sem sentido. Sem regras. Porque um dia alguém me disse “Quando quiseres que tudo pareça ter mais significado, diz coisas sem sentido. O que tem sentido nunca tem significado”. E eu gostei. E eu ouvi. E eu digo. E porque sim.»
Devaneio mental…
Devaneio mental…